"1 de Agosto de 2010
Hoje estava frio ao ponto de congelar alguém e estava chovendo durante todo o tempo. Agora só o que posso ver é o nevoeiro ao meu redor. A neblina é espessa, não consigo nem ver um carro a poucos metros de distância. De qualquer modo, li muitos artigos sobre um tal Slender Man recentemente e, é estranho, desde que comecei a ler meio que passei a me sentir meio que observado.
2 de Agosto de 2010
Acabo de ler sobre inúmeras aparições desse tal de Slender Man, as noticias em sua grande maioria são sobre pessoas - a maioria crianças - que desapareceram sem ao menos deixar algo para que uma investigação possa começar, porém alguns pais relataram que suas crianças os falaram que viram um estranho semelhante ao um homem alto e albino de terno preto próximo delas. Seus pais, céticos, não acreditam e ocasionalmente após uma semana as crianças desaparecem. Ah ! Nada disso me assusta...
3 de Agosto de 2010
Estou novamente lendo sobre o Slender Man, de um certo modo essa creepypasta em especial me prende mesmo sem ao menos me assustar e é esquisito, sempre que leio sobre ele me sinto estranho. Embora não saiba exatamente o porquê, já que nada do que li até agora conseguiu me abalar. Agora são 18:00 horas em ponto, acabo de receber uma mensagem no meu celular que diz: "Tenho assistido a todos os seus movimentos... está com medo?", confesso acabo de ter um descarga de adrenalina, seria isso medo ? Olhei no identificador de chamadas o número era: "(00) 0000-0000" mas me pergunto, como é possÃvel que exita um número assim ?
4 de Agosto de 2010
Tenho recebido outras mensagens que repetiam: "Eu sei que você está com medo... Por que continua negando isso ? Sabe, estou te observando neste exato momento...", eram do mesmo número de antes.
Passado alguns minutos, recebi uma liação: "Olá !" - disse uma voz trêmula - no começo eu não conseguia entender direito o que ele estava falando, porém em seguida ouvi uma respiração pesada que dizia: "Você está com medo ? Está assustado ? Não se preocupe criança, essas perguntas serão respondidas em breve, mas sua respiração está pesada é um fato que você está com medo, sabe sei onde você mora, sei como você vive, o que faz, onde vai ! Criança, te darei um aviso, nos próximos 4 dias você será tomado pela paranoia, e finalmente no dia 8 de Agosto algo irá acontecer com você... Mas sabe essa sua cara de espanto é muito agradável de se observar." Então a linha ficou muda.
5 de Agosto de 2010
Eu estava oficialmente horrorizado. Isolado em meu próprio quarto o dia todo, sem ânimo algum. Não há o que dizer, a não ser que ouvi uma voz profunda vindo das fissuras do meu quarto...
6 de Agosto de 2010
Finalmente sai de meu quarto, depois do que me pareceram séculos. Eu não tinha nada mais pra fazer, então com o dia prestes a nascer fui assistir um pouco de tevê, estava assistindo um desenho para tentar ocupar minha mente, até que todas as luzes se apagaram o breu tomou conta da casa, e eu estava sozinho pelo fato de meus pais trabalharem a noite. Sentei no sofá, enrolado por um cobertor, desejando que meus pais chegassem em casa, de repente a tevê volta a funcionar, mas era apenas estática porém algo estava falando em segundo plano, de principio não entendia o que estava sendo dito até que meu corpo se arrepiou, eu ouvi, era a mesma voz que havia me ligado e dizia: "Olá meu pequeno, o dia está se aproximando !", a tevê novamente se desliga e os principais raios de sol adentraram minha casa quebrando aquele maldito breu...
7 de Agosto de 2010
Não consegui dormir desde ontem de manhã, faz mais ou menos 39 horas que estou acordado. Consegui cochilar por alguns minutos, como queria não ter feito isso, minha mente foi invadida por imagens do Slender Man, imaginei os oito braços com que ele havia matado todas aquelas crianças ensanguentados do lado dele. Novamente, cá estou eu, isolado em meu próprio quarto tendo delÃrios, alucinações, vendo crianças mortas, ouvindo-as me chamando. Não sei se aguentarei por muito tempo...
8 de Agosto de 2010
O dia chegou, o medo me dominou por completo, meu coração está acelerado, meus olhos dilatados, meus ouvidos super-sensÃveis, não sei o que faço cada vez mais escuto as crianças me chamarem, a cada vez parece que estão mais perto. Recebo uma notificação no celular. Meu coração para, meus olhos recobram seu foco, não consigo ouvir mais nada. Pego o celular, é uma mensagem daquele mesmo número, o que eu faço? Leio ou não leio a mensagem? Não aguentei, li. Nela estava escrito: "Eu disse que viria... Verei você exatamente as 15:00 horas !", olhei para o relógio, novamente, o medo me dominou, faltavam menos que 5 minutos para as 15:00, o que fazer tinha que fugir dali o mais rápido possÃvel ! Tinha que chegar ao até o centro do povoado em que morava, lá alguém conseguiria me ajudar, cortei caminho pela floresta sentia que havia algo atrás de mim, me perseguindo, chegando cada vez mais perto então o tropecei em um galho preso ao chão, cai de joelhos e senti que o que estava me perseguindo estava ali, em pé, parado logo atrás de mim. Olhei para meu relógio, marcava exatamente 15:00 horas, fechei meus olhos e comecei a rezar, então ouvi uma voz demonÃaca dizer: "Abra seus olhos, olhe para mim criança, olhe em meus olhos, eu lhe prometo você não irá mais sentir dor, não irá ter medo, abra seus olhos e olhe para mim!", e então ouvindo uma espécie de rizada cometi o erro de abrir meus olhos, vi uma criatura alta vestindo um terno preto com uma gravata cor de sangue suspensa pelo colarinho, olhei mais acima e vi seus oito tentáculos que se assemelhavam a braços balançando no ar, então eu vi, vi seu rosto, um rosto incolor, sem olhos, boca, nariz ou qualquer tipo de caracterÃstica humana, fiquei hipnotizado por aquilo, quando me dei conta estava caminhando em sua direção, não tinha se quer uma emoção em mim, de repente, perdi a consciência.
9 de Agosto de 2010
Acordei atordoado, em um local familiar, era meu quarto, por alguns instantes dei graças por estar vivo, porém estranhei não era capaz de sentir nada, nem o tipico sono ao acordar, ou até mesmo uma emoção.
Desci para a sala onde vi meus pais chorando enquanto um policial falava com eles, de relance vi um saco preto estendido sobre o chão encobertando algo, fui até lá. Chegando perto uma forte rajada de vento fez com que o saco estava acobertando aquilo fosse levado pelo ar e para meu espanto o que o saco estava encobertando era a mim próprio, sem órgãos vitais, estava com o tórax aberto em uma cena horrenda, minhas tripas, o único órgão que restara, estava estirada no chão, eu já havia percebido mas não queria acreditar eu estava morto, como seria possÃvel ? Eu sinto que eu sou de carne, sinto que estou vivo, como eu poderia estar morto sendo que consigo até mesmo levantar objetos? Olhando para trás lá estava ele, junto das demais crianças me observando. Não sei o que deu em mim, mas acho que encontrei outro lugar para ficar, outros famÃlia com quem conviver, e você que está lendo este pequeno escrito, tenha certeza de que ele também te observa."
Escrito por: Eu mesmo :D Ou não, vai que isso realmente aconteceu...
Dia 29/05/2011
Alice era uma garota linda, de olhos claros e cativantes com longos cabelos negros como a noite, hoje completa 15 anos.
Seus pais planejaram uma festa e por isso foram buscar o bolo, deixando-a sozinha.
Alice estava assistindo tevê na sala quando a campainha tocou. Ela não imaginou quem seria aquela hora. Era certo que a festa seria naquele dia, porém, havia sido marcada pra as 19 horas. Algum amigo seu talvez?
Levantando-se com muita preguiça foi até a porta. Ao olhar pelo olho mágico não viu ninguém.
"-Coisa da minha cabeça talvez?"-Pensou
Ao se virar para voltar para assistir a tevê, o toque na campainha recomeçou. Dessa vez, Alice abriu a porta de uma vez, e nada havia exceto uma caixa de madeira pouco maior que ela.
Alice empurrou a caixa e a levou para casa, ao abri-la um frio envolveu sua barriga como uma lamina recém tirada de um freezer e enfiada em seu corpo.
Ela engole em seco e escuta sua própria respiração. Estava sua casa tão silenciosa antes?
Alice respira fundo e espanta aquele sentimento idiota chamado medo e abre de uma vez a caixa.
Dentro, uma coisa que ela não imaginava...
–Uma boneca? O que eu vou fazer com uma coisa estúpida dessas?- Alice falou
Embora a boneca fosse macabra com aquela pele de porcelana pálida e com sua boca brutalmente costurada ela não sentiu medo. Então Alice se lembrou de uma pessoa ao olhar fixamente para os pequenos olhos da boneca.
–Jude? Putz! Ela me lembra a Jude.
E riu consigo mesma a lembrar de sua amiga de infância que tinha desaparecido a 2 anos atrás...
...No dia de seu aniversário de 15 anos...
Alice se levantou espantando o sentimento ruim causado das lembranças de sua amiga e foi ao seu quarto. Ao chegar, logo colocou a mais nova boneca na cama, a boneca estranhamente não era pesada apesar da altura.
E saiu andando tranquilamente até a sala...
Passou-se quase uma hora Alice ouviu um barulho-como quando se joga um vaso de vidro no chão e o barulho é abafado por algum motivo.
Assustada, porém muito curiosa foi até seu quarto-origem do barulho. Ao chegar lá não encontrou nada demais, apenas a boneca que estava jogada no chão, respirou fundo e levantou a boneca. Ela havia quebrado seu rosto antes perfeito e agora com terrÃveis rachaduras que marcavam o rosto profundamente.
A boneca agora segurava uma mensagem em suas mãos:
Atrás de você.
Alice se virou apressadamente e seus olhos viram uma garotinha...Não, aquilo não era uma garotinha... Não era sequer um ser humano...
Seu corpo quase nu denunciava profundas marcas de tortura e queimadura apesar de ser feito de porcelana, onde devia haver olhos, somente havia um vazio e saia um liquido negro denso e a sua boca... Ah, sua boca... Aquele sorriso brutalmente esculpido como se alguém tivesse quebrado-a inteira dava vontade de vomitar cada refeição que ela havia feito.
Alice não teve forças para correr nem gritar. Seu corpo congelou-se...
A sua visão começou a escurecer... O ar havia ficado mais denso e frio... Seu coração batia apressadamente... De repente nada sentiu, seu corpo estava jogado no chão...
Algumas horas se passaram e Alice acordou mas, aquele não era seu quarto, não era sua casa. Era um lugar escuro e cheio de bonecas. Então ela percebeu, estava em um tipo de banheira encostada numa parede onde vazava um liquido mal cheiroso dela. A banheira estava cheia de um liquido pegajoso e ela estava nua, foi tentar se levantar porém não conseguiu... Estava sem seus braços, ela começou a chorar e gritar, aquilo doÃa tanto.
–Shh...Fique quieta, mamãe vai ficar furiosa,ela detesta gritos - uma voz que vinha de trás dela falou- E pra que ficar triste? Você não quer ficar bonita como eu?
Alice se virou e quem falava era a garotinha que ela havia visto pouco antes de desmaiar. Escutou-se passos vindos aparentemente do andar de cima.
–Mamãe esta vindo...- a garotinha riu- você verá, ela faz um trabalho maravilhoso...
Antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa para fugir uma mulher chegou. Ela aparentava ter pouco mais que 26 anos, era alta e com uma feição triste e perturbada e tinha muitas partes do seu rosto que eram costuradas...
–Mamãe...
–Quem você trouxe dessa vez, garota estupida?
A garotinha se afastou um pouco revelando Alice com seus braços já cortados. A mulher agarrou-a e jogou-a num tipo de maca. Ela começou a examinar seu corpo, e injetar algumas remédios dos quais Alice não tinha conhecimento nenhum, eles queimavam o corpo dela e muitos faziam ela querer vomitar, ela desmaiou algumas vezes e quando acordava desejava a morte.
–Sua vadia,você vai pro inferno!- Alice disse ao acordar em uma das vezes, com suas poucas forças que restavam
A mulher apenas riu e sussurrou no ouvido dela:
–Não quero voltar pra casa tão cedo...
Imediatamente a mulher pegou uma agulha e fio de sutura e costurou a boca de Alice...
...
Estalos... Choros... Gritos...
–Estupida!Estupida! Você deveria estar morta!
–Ma-mãe...
...
A ultima vez que Alice teve forças para poder abrir seus olhos novamente a mulher voltou a falar com ela:
–Ei garotinha... Pra quê chorar? Você não quer ficar bonita? Ora, não seja ruim consigo mesma, irei te purificar... Você ficará linda... Tão linda como... Uma boneca! -Ela riu, pegou um bisturi e cortou a costura da boca.
Alice sentiu algo entrar dentro de sua boca, um cano enorme ele começou a sugar, sugar muito forte... Sua lÃngua, seu estomago , seu coração, sua vida...
...
O caso de Alice foi dado como desaparecimento, nunca mais se ouviu falar de seus pais, uns dizem que houve suicÃdio duplo, outros dizem que se envolveram num acidente de carro e há outros que dizem que o pai dela se enforcou após ver a esposa colocar fogo em si mesma, dizendo que encontraria a filha no inferno e a boneca que Alice ganhou nunca foi encontrada.
Dia 20/06/2014
Hoje é o aniversário de Julie, ela faz 15 anos e recebeu um presente pouco comum-uma boneca de porcelana com olhos claros e cativantes e cabelos negros como a noite...
Feito por: Thereza Beatriz
Feito por: Thereza Beatriz
HorrÃvel, para além de qualquer concepção, foi a mudança por que passou meu melhor amigo, Crawford Tillinghast. Eu não o vira desde aquele dia, dois meses e meio antes, quando ele me falou da meta em direção à qual suas pesquisas fÃsicas e metafÃsicas se encaminhavam e quando respondeu à minha demonstração de espanto e medo expulsando-me de seu laboratório e de sua casa num estouro de raiva fanática. Eu sabia que ele agora passava a maior parte do tempo fechado em seu laboratório no sótão com aquela maldita máquina elétrica, comendo pouco e afastado até dos próprios criados, mas não pensara que um perÃodo tão breve de dez semanas pusesse alterar e desfigurar de tal maneira uma criatura humana. Não há prazer em ver um homem garboso tornar-se magro de repente, e é pior ainda quando a pele flácida começa a amarelar ou a acinzentar, os olhos fundos, esgazeados, brilhando de modo sobrenatural, a testa enrugada e coberta de veias, e as mãos trêmulas e contorcidas. E se, adicionado a isso, houver um desalinho repulsivo, uma desordem louca do vestir, moitas de cabelos escuros esbranquiçados na raiz, e uma sombra de barba não aparada sobre um queixo que sempre fora cuidadosamente barbeado, o efeito cumulativo será chocante. Mas esse era o aspecto de Crawford Tillinghast na noite em que sua mensagem pouco coerente me trouxe até sua porta depois de semanas de exÃlio. Tal era o espectro que tremia enquanto me fazia entrar, uma vela na mão, a olhar furtivamente por sobre o ombro, como se receoso de coisas invisÃveis na casa antiga e solitária, situada ao fundo da Benevolent Street.
Para Crawford Tillinghast, ter um dia estudado ciência ou filosofia fora um erro. São coisas que deveriam ser deixadas para o investigador impessoal e frio, pois oferecem duas alternativas igualmente trágicas ao homem de sentimento e ação: desespero, se fracassa em sua busca, e terrores indizÃveis e inimagináveis, se obtém sucesso. Tillinghast fora presa uma vez do fracasso, da reclusão e da melancolia; mas agora eu sabia, entre receios repelentes de minha parte, que ele era presa do sucesso. De fato, eu o tinha alertado, duas semanas antes, quando aventou, num Ãmpeto, a história do que estava prestes a descobrir. Tornara-se vermelho e excitado, falando num tom de voz muito alto e antinatural, embora sempre pedante.
“O que sabemos”, ele dissera, “sobre o mundo e o universo ao nosso redor? Nossos meios de receber impressões são absurdamente escassos, e nossas noções dos objetos que nos cercam são infinitamente estreitas. Vemos as coisas somente na medida em que somos construÃdos para vê-las e não podemos fazer idéia alguma de sua natureza absoluta. Com cinco débeis sentidos, queremos compreender o cosmos ilimitadamente complexo, enquanto outros seres, com uma gama de sentidos diferente, mais ampla ou mais possante, não apenas poderiam ver de modo diferente as coisas que vemos, como também ver e estudar mundos inteiros de matéria, energia e vida que jazem próximos de nós, mas que não podem ser detectados com os sentidos que temos. Sempre acreditei que tais mundos estranhos e inacessÃveis existem colados aos nossos cotovelos, e agora creio que encontrei um modo de romper as barreiras. Não estou blefando. Dentro de vinte e quatro horas aquela máquina sobre a mesa gerará ondas que agirão sobre órgãos ignorados de sentidos que existem em nós como vestÃgios atrofiados ou rudimentares. Essas ondas abrirão para nós inúmeros panoramas desconhecidos do homem e muitos desconhecidos de qualquer coisa que consideramos como vida orgânica. Haveremos de ver aquilo para o qual os cachorros uivam na escuridão, aquilo para o qual os gatos levantam suas orelhas após a meia-noite. Veremos essas coisas e outras coisas que nenhuma criatura que respira jamais viu. Vamos saltar sobre o tempo, o espaço e as dimensões e, sem mover nossos corpos, espiar o fundo da criação.”
Quando Tillinghast disse essas coisas, não disfarcei, pois conhecia-o bem o suficiente para ter muito mais receio do que admiração; mas ele era um fanático e expulsou-me da casa. Agora ele não era menos fanático, mas seu desejo de falar sobrepujara o ressentimento, e ele me escrevera num tom imperativo, com uma caligrafia quase ilegÃvel. Quando penetrei na casa desse amigo tão subitamente metamorfoseado numa gárgula vacilante, infectou-me o terror que parecia espreitar em meio a todas as sombras. Era como se as palavras e crenças expressas dez semanas antes se encarnassem na escuridão que cercava o pequeno cÃrculo de luz da vela, e senti-me mal diante da voz oca e alterada de meu anfitrião. Desejei que os criados estivessem por perto e não gostei quando ele disse que todos tinham deixado a casa havia três dias. Pereceu estranho que o velho Gregory, ao menos, pudesse desertar de seu senhor sem dizer isso a um amigo tão próximo como eu. Era ele que me dava toda a informação que tive sobre Tillinghast depois que, furioso, este me expulsou.
No entanto, logo obriguei meus medos a se subordinarem à minha curiosidade e fascinação. O que é que Crawford Tillinghast queria de mim agora eu podia até conjeturar, mas de que ele tinha algum segredo ou descoberta estupenda para revelar, disso eu não duvidava. Antes eu protestara contra sua perquirição indiscreta do impensável, e agora que ele evidentemente tivera algum tipo de sucesso eu quase compartilhava seu espÃrito, por mais terrÃvel que pudesse ser o custo da vitória. Seguindo a luz vacilante da vela que a mão daquela paródia trêmula de homem segurava, subi em direção à escuridão vazia da casa. A eletricidade parecia ter sido desligada, e quando perguntei ao meu guia ele disse que era por um motivo definido.
“Seria demais… Eu não ousaria”, ele continuava a murmurar. Notei em especial esse seu novo hábito de murmurar, pois não era do seu feitio falar sozinho. Entramos no laboratório no sótão, e observei aquela detestável máquina elétrica a cintilar com uma luminosidade doentia, sinistra, violeta. Estava conectada a uma potente bateria quÃmica, mas não parecia receber corrente, pois eu me lembrava de que em seu estágio experimental ela tinha roncado e ciciado quando posta em ação. Em resposta à minha pergunta, Tillinghast sussurrou que esse brilho permanente não era elétrico em nenhum sentido que eu pudesse entender.
Ele me fez sentar próximo à máquina, de modo que ela ficou à minha direita, e acionou um comutador que ficava por baixo de uma profusão de bulbos de vidro. Os estralejos usuais começaram, tornaram-se um gemido, e terminaram num rumor monótono e tão suave que dava impressão de retornarem ao silêncio. Entrementes a luminosidade aumentou, diminuiu, até assumir uma tonalidade pálida e inusitada ou uma mistura de cores que eu não poderia situar ou descrever. Tillinghast tinha estado a me observar, notando minha expressão de perplexidade.
“Sabe o que é isso?”, murmurou, “Isso é ultravioleta”. E gargalhou ao ver a minha surpresa. “Pensou que o ultravioleta era invisÃvel, e é – mas você pode vê-lo e a muitas outras coisas agora. Ouça-me! As ondas dessa coisa estão despertando em você mil sentidos adormecidos – sentidos que você herdou de éons de evolução, desde o estado dos elétrons errantes até o estado da humanidade orgânica. Eu vi a verdade, e pretendo mostrá-la a você. Faz idéia de como ela se parece? Vou dizê-lo a você.” Aqui, Tillinghast se sentou também, de frente para mim, segurando sua vela e olhando-me perversamente nos olhos. “Seus órgãos sensórios existentes – ouvidos primeiro, suponho – captarão muitas das impressões, pois estão intimamente conectados com os órgãos adormecidos. Então haverá outros. Já ouviu falar da glândula pineal? Rio-me dos ingênuos endocrinologistas, pretensiosos e comparsas iludidos dos freudianos. Essa glândula é o órgão sensório por excelência – eu o descobri. É como uma visão, afinal, e transmite imagens visuais ao cérebro. Se você é normal, esse será o modo como você obterá a maior parte... Refiro-me à maior parte da evidência do além.”
Olhei em volta o imenso sótão com a parede alta ao sul, obscuramente iluminada por raios que os olhos cotidianos não poderiam ver. Os cantos mais distantes eram pura sombra, e o lugar inteiro mergulhava numa irrealidade nevoenta que obscurecia sua natureza e convidava a imaginação ao simbolismo e à fantasmagoria. Durante o longo intervalo em que Tillingthast permaneceu em silêncio, tive um devaneio de estar num incrÃvel e vasto templo de deuses há muito desaparecidos, num edifÃcio vago de inúmeras colunas de pedra negra que se elevavam de um piso de lajes úmidas até alturas de nuvens que ficavam para além da minha visão. A imagem me pareceu bastante vÃvida por algum tempo, mas gradualmente deu lugar a uma concepção mais horrÃvel – aquela da solidão extrema e absoluta do espaço infinito, inescrutável e silencioso. Parecia haver um vazio e nada mais, e senti um medo infantil que me fez sacar do bolso junto ao peito um revólver que passei a carregar desde que fora assaltado em East Providence. Então, das mais distantes regiões do remoto, osom deslizou suavemente para dentro da existência. Era infinitamente débil, sutilmente vibrante, e inequivocamente musical, mas continha um não sei quê de indizivelmente selvagem que fazia com que o seu impacto parecesse uma tortura delicada de todo o meu corpo. Vieram-me sensações que eram como se alguém pisasse vidro moÃdo no chão. Simultaneamente, desenvolveu-se alguma coisa como um sopro frio, que aparentemente passava por mim vindo do som distante. Enquanto, sem fôlego, aguardava, percebi que tanto o som quanto o vento estavam aumentando, o efeito assemelhando-se ao de ter sido atado a um par de trilhos no caminho de uma gigantesca locomotiva que se aproximasse. Comecei a falar a Tillinghast e, quando o fiz, todas as impressões incomuns se desvaneceram abruptamente. Vi apenas o homem, as máquinas cintilantes e o cômodo penumbroso. Tillinghast ria de um jeito repulsivo para o revólver que eu sacara quase inconscientemente, mas pela sua impressão compreendi que ele tinha visto e ouvido tanto quanto eu, se não muito mais. Murmurei o que eu tinha experimentado, e ele me instruiu para que permanecesse o mais quieto e receptivo possÃvel.
“Não se mova”, advertiu, “pois nesses raios tanto podemos ver quanto ser vistos. Eu lhe disse que os servos foram embora, mas não lhe disse como. Foi aquela governanta de cabeça dura; ela acendeu as luzes no térreo depois que eu avisei para não fazer isso, e os arames captaram vibrações empáticas. Deve ter sido amedrontador – pude ouvir os gritos daqui de cima, a despeito de tudo o que via e ouvia vindo de outra direção, e mais tarde foi pavoroso encontrar aqueles montes vazios de roupas por toda a casa. As roupas da senhora Updike estavam próximas do comutador de luz da sala – eis como eu soube que ela o fizera. Pegou-os a todos. Mas, desde que não nos movamos, estamos razoavelmente seguros. Lembre-se de que estamos lidando com um mundo medonho no qual somos praticamente indefesos... Fique quieto!”
O choque combinado da revelação e da intimação abrupta deu-me um tipo de paralisia, e no terror minha mente se abriu de novo para as impressões que vinham do que Tillinghast chamou de “além”. Um vórtice de som e movimento me envolvia agora, imagens confusas surgindo diante de meus olhos. Eu via os contornos imprecisos do cômodo, mas de algum ponto do espaço parecia jorrar uma coluna fervilhante de formas irreconhecÃveis ou de nuvens, penetrando no teto sólido num ponto adiante, à minha direita. Então vislumbrei o templo – como efeito novamente, mas desta vez os pilares subiam em direção a um oceano aéreo de luz, o qual despejava um raio de luz ofuscante por todo o caminho da coluna de nuvens que eu vira antes. Depois disso, a cena tornou-se quase inteiramente caleidoscópica, e na profusão de visões, sons e impressões sensoriais não identificadas, senti que estava prestes a me dissolver ou, de algum modo, a perder a forma sólida. De um determinado lance eu hei de me lembrar para sempre. Pareceu-me ter visto, por um instante, uma nesga de estranho céu noturno repleto de esferas cintilantes e rodopiantes, e quando desapareceu vi que os sóis brilhantes formavam uma constelação ou galáxia de forma definida, sendo essa forma o rosto distorcido de Crawford Tillinghast. Noutra ocasião, senti que as coisas imensas e animadas se arrastavam para além de mim e à s vezes caminhavam ou vogavam através do meu corpo supostamente sólido, e pensei ter visto Tillinghast olhar para elas como se seus sentidos mais bem treinados pudessem captá-las visualmente. Lembrei-me do que ele dissera acerca da glândula pineal e me perguntei o que ele via com esse olho sobrenatural.
De súbito, senti-me também possuÃdo por uma espécie de visão aumentada. Por cima e ao longo do caos luminoso e sombrio se elevava uma imagem que, embora vaga, continha elementos de consistência e permanência. Era de fato algo familiar, pois a parte incomum estava superposta à cena comum e terrestre, tal como uma imagem de cinema se pode projetar sobre a cortina pintada de um teatro. Vi o laboratório do sótão, a máquina elétrica e a forma indistinta de Tillinghast em frente a mim, mas de todo o espaço não ocupado por objetos familiares sequer a menor porção estava vaga. Formas indescritÃveis, vivas ou não, se misturavam numa desordem repulsiva, e perto de cada coisa conhecida havia mundos inteiros de entidades alienÃgenas e ignotas. Igualmente, parecia que todas as coisas conhecidas entravam na composição de outras coisas desconhecidas e vice-versa. Mais à frente, entre os objetos vivos, havia monstruosidades pretas, semelhantes a medusas, que estremeciam languidamente com as vibrações da máquina. Manifestavam-se numa profusão nauseante, e eu vi, para o meu horror, que se imbricavam, que eram semifluidas e capazes de passar através umas das outras e daquilo que conhecemos como sólidos. Essas coisas jamais paravam; antes: pareciam flutuar sempre com algum propósito maligno. Às vezes, davam mostras de devorar-se umas à s outras, o atacante lançando-se sobre sua vÃtima e instantaneamente fazendo-a desaparecer de vista. Trêmulo, entendi o que tinha feito desaparecer os infelizes criados, e não podia expulsar a coisa de minha mente enquanto lutava para observar outras propriedades do mundo, há pouco tornado visÃvel, que existe incógnito à nossa volta. Mas Tillinghast tinha estado a me observar e agora falava.
“Você as vê? Você as vê? Vê as coisas que flutuam e se precipitam à sua volta a cada momento de sua vida? Vê as criaturas que formam o que os homens chamam de ar puro e de céu azul? Não tive sucesso em romper a barreira, não mostrei a você mundos que os outros homens jamais chegaram a ver?” Ouvi seu grito através do horrÃvel caos e olhei para a face selvagem que tão ofensivamente se colava à minha. Seus olhos eram poços de chamas e me fitavam com aquilo que – logo entendi – era apenas o mais profundo ódio. A máquina ronronava de maneira horrorosa.
“Pensa que essas coisas rastejantes arrebataram os criados? Tolo, são inofensivas! Mas os criados desapareceram, não é? Você tentou me impedir, você me desencorajou quando precisei de cada gota de incentivo que pudesse obter. Você teve medo da verdade cósmica, seu maldito covarde, mas agora eu o peguei! O que foi que levou os criados? O que os fez berrar tão alto?... Não sabe, hein? Logo, logo saberá. Olhe para mim – ouça o que eu digo. Supõe você que existem mesmo tais coisas como tempo e magnitude? Acredita mesmo que existem tais coisas como forma e matéria? Eu lhe digo, você atingiu profundidades que o seu pequeno cérebro não pode conceber. Vi para além das fronteiras do infinito e arrastei demônios das estrelas... Conduzi as sombras que perambulam de mundo para mundo para semear a morte e a loucura... O espaço me pertence, está me ouvindo? As coisas estão à minha caça agora – as coisas que devoram e dissolvem –, mas eu sei como ludibriá-las. É a você que elas pegarão, como fizeram com os criados... Está tremendo, caro senhor? Eu lhe disse que era perigoso mover-se, coloquei-o a salvo dizendo que se mantivesse quieto – salvei-o para ter mais visões e para me ouvir. Se você tivesse se movido, eles já teriam se atirado sobre você há muito tempo. Não se preocupe, não vão machucá-lo. Não machucaram os criados – foi apenas ver que os fez berrar daquele jeito. Meus bichinhos não são bonitos, pois vêm de lugares onde os padrões estéticos são...muito diferentes. Eu quase os vi, mas soube como parar. Você é curioso? Sempre soube que você não era um cientista. Tremendo, hein? Tremendo de ansiedade para ver as últimas coisas que descobri. Por que não se move, então? Cansado? Bem, não se preocupe, amigo, pois elas estão vindo… Olhe, olhe, amaldiçoado, olhe… Está bem em cima do seu ombro esquerdo.”
O que falta contar é bem pouco, e vocês talvez já tenham sabido por meio dos jornais. A polÃcia ouviu um tiro na velha casa de Tillinghast e nos encontrou lá – Tillinghast morto, e eu, inconsciente. Prenderam-me, porque o revólver estava em minha mão, mas soltaram-me dentro de três horas, pois descobriram que foi a apoplexia que acabou com Tillinghast e viram que meu tiro tinha sido disparado contra a máquina perversa que agora jaz irremediavelmente destroçada no chão do laboratório. Não contei muito do que vi, pois temi que o investigador ficasse cético, mas, pela descrição evasiva que dei, o médico me disse que, sem dúvida, eu tinha sido hipnotizado pelo louco vingativo e homicida.
Quem dera eu pudesse acreditar no médico. Seria bom para os meus nervos se eu pudesse pôr de lado o que agora tenho de pensar sobre o ar e o céu que me envolvem e que estão acima de mim. Nunca me sinto sozinho e confortável, e um senso horrÃvel e arrepiante de perseguição à s vezes me invade quando esmoreço. O que me impede de acreditar no médico é apenas este fato: que a polÃcia nunca encontrou os corpos dos criados que, segundo dizem, Crawford Tillinghast assassinou.(H. P. Lovecraft)
Site do tradutor do conto - http://www.arquivors.com/doalem.htm
Site do tradutor do conto - http://www.arquivors.com/doalem.htm
DAGON
Escrevo
isso debaixo de uma tensão mental considerável já que esta noite
poderei não estar mais vivo. Sem um centavo e no final de meu suprimento
da droga que, só ela, consegue tornar minha vida tolerável, já não
consigo suportar a tortura e irei atirar-me dessa janela de sótão na rua
esquálida lá em baixo. Não pensem que minha dependência da morfina
tenha-me tornado um fraco ou degenerado. Quando houverem lido estas
páginas rabiscadas às pressas, poderão imaginar, mesmo sem nunca
perceber plenamente, por que preciso do olvido ou da morte.
Foi
num dos trechos mais abertos e pouco freqüentados do vasto PacÃfico que
o paquete onde eu era comissário de bordo foi capturado pelo vaso de
guerra alemão. A grande guerra estava, então, em seu inÃcio, e as forças
marÃtimas do bárbaro ainda não haviam mergulhado por completo em sua
posterior degradação. Sendo assim, nossa embarcação foi tomada como
legÃtima presa, enquanto nós, membros de sua tripulação, fomos tratados
com toda a eqüidade e consideração que nos eram devidas como
prisioneiros navais. Era tão liberal, de fato, a disciplina de nossos
captores, que cinco dias depois de nos tomarem, consegui escapar,
sozinho, num pequeno barco equipado com água e provisões para muito
tempo.
Quando
enfim me vi livre e à deriva, não tinha muita noção de minha
localização. Como nunca havia sido um navegador experiente, eu só podia
imaginar, vagamente, pelo sol e as estrelas, que estava um pouco ao sul
do Equador. Da latitude eu nada sabia, e não havia ilha nem linha
costeira à vista. O tempo manteve-se firme e durante dias sem conta eu
vaguei sem destino debaixo de um sol escaldante, esperando a passagem de
algum navio ou ser atirado às praias de alguma terra habitável. Mas não
surgiu navio nem terra e comecei a me desesperar em minha solidão sobre
a ondulante vastidão de interminável azul.
A
mudança aconteceu enquanto eu dormia. Seus detalhes eu jamais saberei,
pois, embora agitado e povoado de sonhos, tive um sono contÃnuo. Quando
afinal despertei, descobri-me meio tragado pela extensão lamacenta de um
infernal lodo negro que se estendia à minha volta em monótonas
ondulações até onde minha vista alcançava e onde, a certa distância,
estava enterrado meu barco.
Embora
se possa perfeitamente imaginar que minha primeira sensação seria de
espanto com uma transformação tão prodigiosa e inesperada de cenário,
eu, na verdade, fiquei mais horrorizado do que espantado, pois havia no
ar e no solo putrefato um caráter sinistro que me arrepiou até o âmago
de meu ser. A região toda fedia com as carcaças de peixes apodrecidos e
outras coisas menos descritÃveis que eu vi projetadas da lama abjeta da
interminável planÃcie. Talvez eu não devesse esperar transmitir em meras
palavras a indizÃvel repugnância que pode existir num silêncio absoluto
e numa imensidão estéril. Não havia nada ao alcance do ouvido e da
visão, salvo uma vasta extensão de lodo preto, mas ainda assim o
caráter absoluto do silêncio e a homogeneidade da paisagem me oprimiram
com um medo nauseante.
O
sol ardia no alto de um céu sem nuvens que me parecia quase negro em
sua impiedade, como se refletisse o pântano escuro que tinha embaixo de
meus pés. Arrastando-me para dentro do barco encalhado, percebi que
apenas uma teoria poderia explicar minha situação: por algum tipo de
erupção vulcânica sem precedentes, parte do leito do oceano devia ter
sido impelida para a superfÃcie, expondo regiões que durante incontáveis
milhões de anos ficaram submersas debaixo de profundezas aquáticas
imensuráveis. Era tão grande a extensão da nova terra que se elevara por
baixo de mim, que não consegui captar o mais tênue ruÃdo do oceano, por
mais que forçasse os ouvidos. Também não havia qualquer ave marinha
para pilhar as coisas mortas.
Durante
muitas horas, eu fiquei sentado, pensando e ruminando, no barco que
estava caÃdo de lado e produzia um pouco de sombra à medida que o sol ia
seguindo seu curso no céu. Com o avanço do dia, o chão foi ficando
menos pegajoso, indicando que ficaria seco o bastante para permitir que
se andasse sobre ele dentro de pouco tempo. Dormi muito pouco naquela
noite e, no dia seguinte, preparei um farnel com água e comida para uma
excursão terrestre em busca do mar desaparecido e de um possÃvel
resgate.
Na
terceira manhã, verifiquei que o solo já estava bem seco e permitiria
que se caminhasse sem problemas sobre ele. O cheiro de peixe era
enlouquecedor, mas eu estava concentrado demais em coisas mais sérias
para me importar com desgraça tão pequena, e parti ousadamente para um
destino incerto. Caminhei a duras penas durante o dia todo na direção
oeste, guiado por um outeiro distante que se destacava em altura dos
outros que existiam no deserto acidentado. Acampei naquela noite, e, no
dia seguinte, segui avançando para o outeiro, embora aquele objeto
parecesse estar pouca coisa mais perto do que da primeira vez em que o
vira. Na quarta noite, atingi a base do monte, que se mostrou muito mais
alto do que parecera à distância. Um vale interposto destacava seu
perfil da superfÃcie geral. Exausto demais para subir, dormi à sombra da
colina.
Não
entendo por que meus sonhos foram tão agitados naquela noite, mas,
antes da curva fantasticamente acentuada da lua minguante ter-se erguido
muito alto acima do lado oriental da planÃcie, acordei suando frio,
decidido a não me deixar adormecer de novo. As visões como as que havia
tido eram demais para suportá-las de novo. E sob o brilho do luar,
percebi como foram insensatas as minhas caminhadas diurnas. Sem o ardor
do sol escaldante, minha jornada teria-me custado menos energia. Agora,
enfim, eu me sentia perfeitamente capaz de realizar a escalada que me
havia intimidado ao entardecer. Apanhei então o farnel e encaminhei-me
para a crista da elevação.
Já
tive a oportunidade de mencionar que a monotonia constante da planÃcie
ondulada era-me uma fonte de impreciso horror, mas creio que meu horror
ficou maior quando alcancei o cume do monte e olhei para o outro lado,
para um imenso vale ou canhão cujos recessos negros a lua ainda não se
havia erguido o suficiente para iluminar. Senti-me no limiar do mundo,
olhando, por sobre a borda, para um caos insondável de escuridão
perpétua. Em meio a meu terror, perpassaram curiosas reminiscências do
“ParaÃso Perdido¹” e da tenebrosa ascensão de Satã pelos reinos informes
das trevas.
À
medida que a Lua foi subindo no céu, pude notar que as encostas do vale
não eram tão perpendiculares quanto eu imaginara. Saliências e
afloramentos de rocha forneciam apoios perfeitos para uma descida, além
de que, cerca de trinta metros abaixo, o declive tornava-se bastante
ameno. Impelido por um impulso que não consigo precisar, fui descendo
com dificuldade pelas rochas até parar na encosta menos Ãngreme abaixo,
de onde fitei as profundezas estÃgias onde nenhuma luz jamais penetrara.
De
repente, minha atenção foi atraÃda por um objeto enorme e singular na
vertente oposta erguendo-se abruptamente a cerca de cem jardas à minha
frente, um objeto de brilho esbranquiçado sob os raios da Lua
ascendente. De inÃcio, imaginei que se tratasse de uma simples rocha
gigantesca, mas estava pouco consciente de que seu contorno e sua
posição não eram uma obra puramente natural. Um exame mais de perto
encheu-me de sensações que não consigo exprimir, pois, apesar de seu
tamanho imenso e sua posição num abismo que ficara escondido no fundo do
mar desde a juventude do mundo, percebi que o estranho objeto era um
monolito bem moldado cujo vulto maciço havia conhecido o artesanato
humano e, talvez, a adoração de criaturas vivas e pensantes.
Pasmo
e assustado, mas não sem um certo frêmito de prazer do cientista ou do
arqueólogo, examinei com maior atenção o meu entorno. A Lua, agora perto
do zênite, brilhava intensamente, misteriosamente, sobre os penhascos
abissais que ladeavam o abismo, revelando um extenso curso d’água que
corria sinuoso em seu fundo até se perder de vista em ambas as direções e
quase lambia meus pés enquanto eu estava ali, parado, na encosta. Do
outro lado do vale, as leves ondulações da água roçavam a base do
ciclópeo monolito, sobre cuja superfÃcie eu podia agora distinguir
inscrições e entalhes toscos. A escrita estava em um sistema de
hieróglifos que eu não conhecia e que era diferente de tudo que eu já
vira em livros, consistindo, em sua maior parte, de sÃmbolos aquáticos
estilizados como peixes, enguias, polvos, crustáceos, moluscos, baleias,
coisas assim. Era patente que diversos caracteres representavam coisas
marinhas desconhecidas do mundo moderno, mas cujas formas, em
decomposição, eu havia observado na planÃcie erguida do oceano.
Foram
os entalhes decorativos, porém, que mais me extasiaram. Havia um
arranjo de baixos-relevos, bem visÃvel acima da água interposta por
conta de seu enorme tamanho, cuja temática teria provocado a inveja de
Doré. Imagino que aquelas coisas deviam supostamente ilustrar pessoas —
ao menos um certo tipo de pessoas, embora as criaturas fossem mostradas
divertindo-se como peixes nas águas de alguma gruta marinha ou venerando
algum santuário em forma de monolito também ao que tudo indica
submerso. De seus rostos e formas, não ouso falar com detalhes; sua mera
lembrança me deixa aturdido. De um grotesco além da imaginação de um
Poe ou de um Bulwer, tinham um perfil infernalmente humano apesar das
mãos e pés palmados, dos lábios chocantemente largos e flácidos, dos
olhos saltados e vÃtreos, e outras feições ainda menos agradáveis de se
lembrar. O curioso é que pareciam ter sido cinzelados muito fora de
proporção em relação ao cenário de fundo, pois uma das criaturas era
mostrada no ato de matar uma baleia representada com um tamanho um pouco
maior do que o seu, mas naquele momento eu achei que eram apenas os
deuses imaginários de alguma tribo primitiva, navegante e pescadora,
alguma tribo cujos derradeiros descendentes teriam perecido muitas eras
antes do primeiro ancestral do Homem de Piltdown ou de Neanderthal haver
nascido. Extasiado diante daquele inesperado vislumbre de um passado
além da imaginação do mais ousado antropólogo, fiquei ali cismando
enquanto a Lua provocava curiosos reflexos no plácido canal à minha
frente.
Então,
de repente, eu a vi. Com uma leve agitação para indicar sua subida Ã
superfÃcie, a coisa emergiu para fora das águas escuras. Enorme,
polifêmica e repugnante, ela disparou como o monstro fabuloso de um
pesadelo para o monolito, ao redor do qual arrojou seus gigantescos
braços escamosos enquanto inclinava a cabeça horripilante, produzindo
sons ritmados. Pensei ter enlouquecido, então.
De
minha subida frenética da encosta e do penhasco, de minha delirante
jornada de volta para o barco encalhado, pouco me recordo. Creio que
cantei muito e ri como louco quando era incapaz de cantar. Tenho vagas
recordações de uma grande tempestade algum tempo depois de alcançar o
barco. De qualquer forma, sei que ouvi o ribombar de trovões e outros
ruÃdos que a natureza produz somente em seus humores mais terrÃveis.
Quando
sai das trevas, estava num hospital de San Francisco, para onde fora
levado pelo capitão de um navio americano que recolhera meu barco no
meio do oceano. Em meu delÃrio, falei muito, mas descobri que não deram
muita atenção às minhas palavras. Meus salvadores não sabiam nada a
respeito de alguma terra que houvesse aflorado no PacÃfico, e eu não
julguei necessário insistir em algo em que sabia que eles não poderiam
acreditar. Procurei certa vez um famoso etnólogo e o diverti com
perguntas curiosas sobre a antiga lenda filistina de Dagon, o
Deus-Peixe, mas, percebendo logo que ele era um racionalista
incorrigÃvel, não insisti nas perguntas.
É
durante a noite, especialmente quando a lua está muito curva e
minguante, que eu vejo a coisa. Tentei a morfina, mas a droga deu-me
apenas um alÃvio temporário e arrastou-me para suas garras como um
escravo sem esperança. Sim, tendo escrito um relato completo para a
informação ou a desdenhosa diversão de meus semelhantes, agora pretendo
acabar com tudo. Muitas vezes me pergunto se tudo não teria passado de
pura fantasmagoria — uma simples fantasia febril enquanto eu jazia,
castigado pelo sol e delirante, naquele barco descoberto depois de minha
fuga do vaso de guerra alemão. Isso eu me pergunto, mas sempre me vem
uma visão terrivelmente pavorosa em resposta. Não consigo pensar no mar
profundo sem estremecer com as coisas inomináveis que podem, neste
exato momento, estar arrastando-se e espojando-se em seu leito
lamacento, adorando seus antigos Ãdolos de pedra e cinzelando à sua
própria e detestável semelhança em obeliscos submarinos de granito
encharcado. Sonho com o dia em que elas poderão ascender acima dos
vagalhões para arrastar para o fundo, com suas garras fétidas, os
remanescentes de uma humanidade debilitada, exaurida pela guerra — o
dia em que a terra poderia afundar e o escuro leito do oceano erguer-se
em meio a um pandemônio universal.
O
fim está próximo. Ouço um ruÃdo à porta, como se um imenso corpo
viscoso a estivesse forçando. Ela não me encontrará. Deus, aquela mão! A
janela! A janela!
Você tem medo de morrer? Ou tem medo do que vem após a morte?
Posso lhe contar sobre o inferno, se você quiser ouvir. Quer saber se é um lugar feio? Aqui existem lugares lindos também, iguaizinhos ao paraÃso. Mas acho que servem apenas como lembrança, para você saber o que perdeu, sei lá. O que faz do inferno o pior de todos os lugares é a repetição. O inferno é pura repetição.
O que eu quis dizer com isso? Bem, você fuma? Então, seria melhor considerar parar, você não imagina o que é passar a eternidade com um cigarro colado aos lábios, ou inalando uma fumaça fétida que te corrói lentamente, te matando de novo e de novo, incontáveis vezes. Aqui sofremos punições de acordo com nossas culpas, parece ser uma coisa justa até, sabia? Aquele florentino maldito, il sommo poeta, estava certo sobre um monte de coisas.
Quem eu era antes de estar aqui? Pouco importa. Eu também não fiz grandes coisas para merecer este lugar. Lembro-me de ter sido declarado um Fornicador e essa foi minha ruÃna. Mas até que foi ameno, pois sei que os pervertidos sexuais sofrem mais que eu. Eles gritam o tempo todo, é horrÃvel.
E aquela história de suas tripas serem devoradas por monstros, você ser açoitado por chicotes e tridentes, arder em chamas brandas até o fim dos tempos? Calma, não se preocupe, isso não existe. As coisas são piores. Por exemplo, dia desses encontrei por aqui uma menina linda, linda mesmo. Só que a pele dela era azulada, as unhas roxas, os olhos levemente saltados das órbitas, e, coitada... ela não conseguia guardar a própria lÃngua dentro da boca! Triste sina para uma suicida.
Fui humano um dia, sim. Era um Fornicador, como já citei antes. Ganhei esse singelo apelido de meus novos amigos, se bem que à s vezes até parece ser um tÃtulo, sei lá. Era um senhor rico, cheio de posses, numa época de superstições, lendas e ignorância.
Eu era rico o suficiente para ser abençoado pela igreja, e assim ela fazia vista grossa para minhas excentricidades. Fui muito feliz na minha vida terrena, com um baronato, status e todas as mulheres do mundo conhecido. Meu feudo era vasto, próspero e continha várias aldeias de camponeses que me prestavam a corvéia, ou seja, trabalhavam de graça em minhas terras em troca de sobrevivência. Sim, sim. Bons tempos! Mas o diabo dá com uma mão e toma com a outra.
Era uma noite muito quente, quando eu vi uma agitação fora dos muros de minha casa, na floresta dentro de meus domÃnios. Despachei meus homens para investigarem o que acontecia, pois vi algumas fogueiras acesas.
Quando eles voltaram, me informaram do casamento de uma dócil camponesa e que os noivos estavam comemorando. Questionado por mim, meu homem de confiança respondeu que ela era muito bonita. A luxúria dentro de mim se retorceu, sussurrando "jus primae noctis".
-Traga essa mulher para meus aposentos. Ela será minha, antes de ser do esposo.
Ele engasgou seco, e partiu para cumprir minha ordem. Até pensei em acompanhá-lo, para ver pessoalmente a indignação dos camponeses mas isso seria grosseiro até mesmo para alguém com tantas falhas de caráter como eu.
Em menos de vinte minutos, eu estava admirando a jovem camponesa. O olhar furioso a deixava ainda mais bela. Devia ter entre dezoito e vinte anos. Era loura, de pele dourada de sol e mãos pequenas, porém calejadas do trabalho diário. Tinha algumas cicatrizes pelo corpo, e um jeito rude e dócil ao mesmo tempo de se mexer. Um enigma.
-Sabe que posso desvirginá-la antes de seu marido, não? É um direito meu. Sou dono de todos vocês.
-O senhor pensa que pode tudo. Tolo. Não sabe com o que está se metendo. Farei seu jogo, mas sua alma pagará por isso. O verdadeiro sofrimento não está nesse mundo, e sim no próximo!
Eu não temia mais aquelas ameaças vazias de camponesas. A maioria delas se diziam bruxas e que me amaldiçoariam, mas nunca nada me aconteceu. Certa vez uma delas me rogou toda uma litânia de pragas e maldições mas, quando pendurada na forca, pediu clemência se mijando toda.
-Tire as vestes.
Estranhamente, ela não tirou. Ao contrário, veio para cima de mim e começou a tirar as minhas, impaciente.
Quando eu estava totalmente nu e com minha masculinidade exposta, a fúria inicial dela transformou-se em docilidade. Ela enfim começou a se despir. Tinha mais cicatrizes escondidas. Mas a visão daquele belo corpo nu, da penugem macia entre as coxas, loura como seus cabelos, os seios médios, como duas peras no ponto e as pernas bem torneadas me excitaram. Minha ânsia de entrar por aquelas coxas e rasgar sua virgindade me cegava para todos os avisos de que algo estava completamente errado.
-Venha meu senhor. - ela me convidou para a posição missionária, deitando-se na cama e abrindo as pernas.
O sexo naquela época era bem mais simples, o homem apenas se concentrava em penetrar e se satisfazer. No meu caso, as mulheres se maravilhavam com meu dote e com o tempo que eu resistia durante o coito.
Porém antes que eu a penetrasse, a mulher me segurou como nenhuma outra fizera antes e ajoelhou-se de maneira profana. Sentia a respiração quente em minha genitália quando ela sussurrou, quase um gemido:
-Pense em mim como um anjinho tocando a flauta celeste, meu senhor.
Nenhuma mulher antes tinha tocado minha intimidade daquele jeito. Existe uma clara diferença entre você mandar uma mulher fazer algo e ela fazê-lo espontaneamente. Ela chupava como uma fruta madura, segurava firme os bagos, e fazia movimentos tão úmidos quanto excitantes com a boca. E o barulho daquilo? Nunca sentira nada igual. Por um momento, meu poderoso garanhão que aguentava firme por horas quase se entregou. Estava quase indo naquela boca, e parecia ser aquilo mesmo que ela queria, pelo olhar com que me encarava de baixo para cima. Enxerguei nesse momento que ela tinha duas grandes marcas que cortavam e desciam pelas costas, o que me causou estranhamento.
Segurei firme os cabelos louros, afastando aquela boca faminta de mim. Ela grunhia, e me puxava pelas pernas para penetrar a boca quente e ávida novamente. O mundo perdeu o sentido por um instante louco, e eu deixei que ela sugasse tudo.
Nem um minuto se passou quando me acabei, molhando sua boca, queixo e todo seu rosto, que se deliciou. Era muito estranho comportamento para uma simples camponesa. Mas o calor da cama me fazia esquecer o raciocÃnio. Ordenei que lavasse o rosto antes de me cavalgar como Lilith, e ela atendeu prontamente. Eu precisava de tempo para recompor minha virilidade.
Podia ser impressão, mas algumas cicatrizes dela sumiram, enquanto sorria. Lavou o rosto, engoliu água em grande quantidade e gargarejou, cuspindo pela janela. Quando ela se encaixou em cima de mim, disse, sorrindo:
-Nunca experimentei um tão grosso, grande e leitoso como o seu. Esses camponeses que o senhor explora são fracos, mÃnimos, pequenos. Quero ver o quanto ainda me dará.
Estranhei o fato dela não ser mais virgem. Geralmente esses camponeses guardam as filhas com cintos de castidade, vigilância cerrada e medo católico. Sexo oral era sexo antinatural, ela poderia ser punida com uns bons seis anos de jejum por aquele ato obsceno. Por que essa era tão diferente? A maioria das mulheres de meu tempo só praticavam o sexo vaginal, ficando sempre por baixo e no escuro. Não podiam ver a nudez do outro. Eram frias como peixes mortos, apenas abriam as pernas, raramente se mexiam, ou falavam algo durante o coito. Ela não! Rebolava, gritava, arranhava minha carne, me falava e pedia coisas que só de ouvir sentia vontade de inundá-la com meu caldo.
Foi quase uma hora. Eu suava muito, ela estranhamente não. Só mantinha um ritmo em cima de mim. Lambia meus dedos, depois segurava minhas mãos e com elas apertava os seios duros, me guiava em toda a extensão daquele corpo torneado. Para quem me amaldiçoaria, ela estava sendo muito amável.
Mas o diabo mora nos detalhes. Enquanto eu a sodomizava - a posição da Besta, a posição dos animais - pensando que qualquer padreco me excomungaria por aquilo, vi claramente as marcas das costas dela sumirem bem diante de meus olhos perplexos. Um pânico instintivo me fez gritar e jogá-la fora da cama!
Porém caà na cama, enfraquecido, e me vi incapaz de ao menos andar. A mulher veio rastejando novamente para mim, um sorriso diabólico nos lábios, o brilho no olhar quase que dizendo "Ainda não acabei".
Me excitava novamente, e tirava tudo o que podia de minha masculinidade. Fazia loucuras que eu nunca tinha experimentado. Sua lÃngua era como o chicote de um demônio, serpenteando em meus mamilos, descendo para meu umbigo e enfim se deleitando em meu membro.
Desfaleci. Não sei por quanto tempo apaguei, mas quando abri os olhos após o merecido descanso, um homem estava ao meu lado na cama. Sim, um homem!
Tentei levantar, entender o que acontecia, mas ainda me sentia fraco e debilitado. Olhando direito, parecia-se muito com a camponesa. Era idêntico, de fato. Dormia um sono agitado, e eu vi as mesmas cicatrizes no corpo dele.
Antes que minha mente trabalhasse meu aposento foi invadido. Inquisidores. A igreja, faminta por bens, tinha enfim descoberto um barão da luxúria para espoliar. Tudo demorou poucas horas. Me torturaram, mutilaram minha genitália, e meus dedos foram quebrados em nome de Deus, pois eles queriam uma confissão. Eu não cometi pecado algum que não a luxúria, e me mantive em silêncio. Lembrei das palavras da camponesa. A maldição.
Trouxeram o motivo de minha desgraça à minha frente, presa. Era a mulher, também mutilada de tanto apanhar. Ouvi dizerem que se tratava de um demônio chamado de Succubus, ou Incubus. Ele me seduziu na forma de mulher, e após manter relações sexuais comigo, se fortaleceu, enquanto eu me enfraqueci. Após o ato, ele se transforma em homem, até que tenha relações sexuais novamente e volte a ser mulher, e assim indefinidamente vive trocando de forma. Também foi dito que se alimenta de energia sexual.
-Mas, se fez sexo comigo e virou homem, com quem mais fez para voltar a ser mulher?
Nenhum inquisidor me respondeu. Ao contrário, queimaram minha lÃngua com brasas quentes. A pergunta pelo jeito tinha sido delicada demais.
Naquele entardecer três forcas foram erguidas em meu feudo. Uma para mim, outra para a succubus que me possuiu e a terceira, provavelmente para o coitado que transou com o demônio depois de mim. Estávamos em celas separadas, apenas esperando nossa hora chegar.
Ao anoitecer, todos os aldeões estavam à minha frente. Eles riam, me vendo com a corda no pescoço. Ao meu lado, um inquisidor também surrado, pendurado, e na terceira forca, a mulher-demônio. Não parecia nada poderosa agora. Sua arena era no sexo mesmo, onde impunha sua vontade insidiosa e sua força.
O inquisidor começou por ela. Apesar de saber que se tratava de um demônio verdadeiro, preferia pensar que era uma mulher comum possuÃda. A ladainha começou, enquanto ele a forçava beijar um crucifixo bento:
"Sit haec sancta et innocens creatura, libera ab omini impugnatoris incursu et totius nequitiae purgata discessu. Sit fons vivus aqua regenerans, unda purificans: ut omnes hoc lavacro salutifero diluenti, operante in eis Spiritum Sancto, perfactae purgationis indulgentian consequantur. Unde benedicto te, creatura aquae, per Deum vivum, per Deum verum, per Deum Sanctum: Per Deum qui in principio verbo separavit ab arida: cuius spiritus super te ferebatur."
No fim do exorcismo a mulher cuspiu no Inquisidor. O velho de rosto pétreo ordenou que tirassem o apoio dela, e o demônio pendurou-se pelo pescoço. Gritou blasfêmias e babou, tentou segurar-se, recusando-se a deixar essa Terra. Diante de tanta demora, o velho decidiu que seria melhor queimá-la.
Ganhei mais meia hora de vida, enquanto os inquisidores arrumavam montes de palha embaixo de mim e do outro condenado. Este, aliás, talvez por ter sido um inquisidor como eles, teve uma morte rápida e menos sofrida. Nem chegaram a acender o fogo para ele. Ainda bem, já que o cheiro da mulher até hoje incomoda minhas narinas. Odeio carne queimada.
Eu ainda ouvia os estalos da fogueira da succubus quando o crucifixo foi encostado em meus lábios. O velho me olhou com desgosto e começou a oração novamente. Quando terminou, perguntou sério:
-Você se arrepende de seus pecados perante a igreja, homem?
Minha morte não seria diferente se eu tivesse dito outras palavras. Disse-lhe que não havia cometido pecado algum diferente de minha natureza, lembrei-o do meu baronato e dos meus generosos donativos à igreja que ele tanto prezava, e sorri.
Ele me sorriu de volta, mas também chutou meu apoio. Foi tudo rápido. Dizem que toda a vida passa ante seus olhos no momento derradeiro da morte, mas eu só consegui lembrar de todas as mulheres que possuà na vida, antes da ossatura do meu pescoço quebrar. Minha espinha rompeu e eu escorreguei para a inconsciência, nem senti as chamas me queimando.
Quando acordei novamente, ganhei lindas asas de anjo negro. Sou um Fornicador, e aqui é onde vivo. Pense nisso.
Talvez você esteja se perguntando o que faço no seu sonho...? Eu estou sempre com você. Principalmente quando está fazendo sexo. Sei de todos seus desejos mais Ãntimos. Seus sonhos, fantasias e perversões. Apenas hoje você descobriu que existo porque eu decidi me mostrar.
Ah, como cheguei até você?
Bem, os fornicadores eu sinto pelo cheiro. Sempre que alguém deseja um parceiro que não é seu, um homem ou uma mulher alheia, lá eu estarei. Sei tudo sobre fantasias negras, sobre desejos escondidos, sobre traição e culpa.
Hoje em dia não existe mais a inquisição. Vivemos numa época cÃnica, e eu adoro isso. Os culpados fingem ignorância. O pecado se alastra das mais doces maneiras.
Mas, chega de devaneios. É hora de você acordar. Pense bem no que anda aprontando de sua vida...
Foi quando um vizinho me enviou um vÃdeo sobre um novo jogo, que ele estava com medo,quando eu abri, me arrepiei, fiquei paralisada quando uma memoria muito antiga veio a tona;
Nasci em 1988, comecei a usar a internet em 2000, discada, icq, bate-papo uol.
No ano de 1997,1998, eu deveria ter entre 9 e 10 anos, brincávamos na praça próximo de casa, era muito escura à noite, tinha varias arvores, medias, altas, subÃamos em todas eu , minha irma e mais umas 4 amigas.
Quando podÃamos brincar até tarde da noite, de esconde-esconde, eu e minha irmã estava em um pé de amora, até para um adulto a arvore era alta, foi quando vimos esse alguém abrir caminho entre os galhos da arvore, ficamos morrendo de medo, duas das nossas melhores amigas viram também, fomos correndo para as nossas casas, chorando.
Ficamos um bom tempo sem sair de casa durante a noite, tentando esquecer o pesadelo ambulante...
Voltando ao ano de 2012, eu mostrei o tal vÃdeo para minha irma,e ela confirmou toda a historia que citei acima, sem eu nem mencionar nada do ocorrido, pensávamos que havia sido fruto na nossa imaginação.
Podem falar que foi criado em um fórum e bla, bla, bla.
Mas em 97, 98 isso seria impossÃvel de inventar!"
Relato enviado por Aghata Ewert
Relato enviado por Aghata Ewert